Jacira entra atarantada, traz preso entre os lábios um
cigarro inteiro, apagado, ainda intacto. Começa a abordar os clientes, a cada
um deles mostra uma moeda de um real. Ali está um paradoxo: Jacira, useira e
vezeira em pedir dinheiro, agora se sai com essa de oferecer moeda a esmo. Ao
que parece, tenta resolver um dilema. O cigarro na boca faz a fala sair
embolada:
“Compa um fósforo pa mim?”
Ora, mas por que ela mesma não compra? Postada à frente da
máquina registradora, Marlene adverte os clientes:
“Não compra, não. Não compra, não. O Luís não quer ela
zanzando aqui dentro.” Marlene solta uma bufada longa e emenda: “A Jacira tá
bem pior que a Xuxa.”
Jacira percebe a situação desfavorável, bate em retirada sem
que sua postura demonstre qualquer indignação, o desvario tem isso de não se
curvar ao repúdio, de não formar constrangimento. Apressada, mistura-se aos
passantes, desaparece na direção de um destino qualquer.
Depois, saio do Café Favorito, caminho alguns metros e a vejo
cruzar a rua. Brasa ardente, o cigarro já vai pela metade.