1º de janeiro

 



Existe um dia de descanso para a cidade

Neste dia ela não tem que suportar as rodas dos veículos

Eles que lhe pisam tanto

São dispensadas de reverberar o grito das buzinas 

Seus prédios ganham exuberância

Suas vielas, avenidas, ruas se exibem nuas   

Os semáforos – sossegados, ociosos, prescindíveis – conversam entre si 

Estacione onde quiser

Há vagas, todas 

Há silêncio e beleza na cidade fantasma

Senta aqui no asfalto

Deita no cruzamento

Posso tirar uma foto sua 

Dessas que são improváveis 

É só hoje 

Amanhã tudo volta

As buzinas, o barulho, a pressa, o grito dos desesperados

E as pessoas

Elas vão chegar com a ilusão de que tudo vai mudar